Lembro-me do tempo, em que minha mãe me levava para tomar café da tarde
na casa de minha tia. Tempo bom! Passávamos juntas, mãe e filha, para comprar o
pão. Aquela mesa (que para mim, era linda) sem muitos detalhes: Pão, café, manteiga e quando
muito, requeijão e bolo. Mas, lembro-me também em algumas dessas visitas, minha
mãe que parecia ter um momento de sintonia, supunha que algo eu ia aprontar e
me direcionava aquele olhar penetrante que de alguma forma eu sabia,
significava: “Não faça isso, tenha
modos!”.
Minha geração e gerações anteriores foram criadas por pais mais sérios.
Sérios é uma boa palavra, muita gente citaria: “severos”, “duros”. Eu cito
essa: sérios. Porque não eram severos ao ponto de me castigarem por tudo, mas
também não eram do tipo “aceitamos tudo”.
Houve uma época, em que pais, sem todo o acesso ao conhecimento que se
tem hoje, eram sábios em suas posturas educativas e de formação. Eram
excelentes negociadores, principalmente, com os filhos!
Sim, acreditem! A conversa era simples: “Filha, você precisa de um tênis? O papai e a mamãe não têm dinheiro para o que você quer. Mas, podemos ver outro modelo”. Ou ainda: “No fim do ano, se você tiver notas boas e passar (de ano) a gente conversa”. E a clássica: “É esse é pronto!”. Vocês têm ideia do quê isso significa? Do que está por trás disso? Pensemos juntos:
Sim, acreditem! A conversa era simples: “Filha, você precisa de um tênis? O papai e a mamãe não têm dinheiro para o que você quer. Mas, podemos ver outro modelo”. Ou ainda: “No fim do ano, se você tiver notas boas e passar (de ano) a gente conversa”. E a clássica: “É esse é pronto!”. Vocês têm ideia do quê isso significa? Do que está por trás disso? Pensemos juntos:
Escolhas: Aqueles pais davam a
opção de escolha. Davam-lhes a oportunidade de se esforçar ou se frustrar. A
criança saberia que se estudasse e passasse de ano, ganharia aquele tênis. Mas,
que se não passasse e tivesse notas vermelhas não teria o tênis. Tinham
respeito por seus filhos e os agregavam ao que acontecia à família que ele
pertencia. Tratavam-nos como seres humanos. Ler ou lembrar-se disso é quase uma
novidade, não é mesmo? Sabem um dos “por quês”? Porque vivemos em uma época em
que a escolha, o respeito e os valores estão completamente reconceituados. E pior, recriados à favor das justificativas de mimos.
O respeito: Porque ninguém
mais escolhe. Ninguém mais faz o exercício de pensar. As crianças apontam,
dentre mil objetos, comidas e outros itens, e sem esforço nenhum, ganham
determinado “presente”. As crianças são verdadeiras administradoras, originais
contadores e os mais novos economistas. Hoje a equação é simples: Eu não penso
no que quero e muito menos no que preciso (vide precisar como deveria ser: uma
necessidade. E não precisar o que todos os outros têm; o típico: “eu preciso
ter também”). Vejo, por meios de
comunicação (dos mais diversos e rápidos possíveis) e apenas, aponto e digo: “É esse”. A criança não se respeita. Se os pais não se
respeitam, como querem que os filhos se respeitem? Como posso querer que meu
filho estude mais, se ele tem, tudo que tenha final “book”, menos o livro em
si. Todos os mais diversos meios de comunicação para “colar na prova”, ao invés
de estudar como fazíamos há apenas vinte anos atrás? Ir à biblioteca pesquisar?
Ler a nossa rica literatura? Fazer alguns cálculos? Pais, esses éramos nós.
Hoje a era é deles.
Os valores: Que valor a
criança pode dar ao esforço de um pai que ela quase não vê durante o dia porque
trabalha muito? Mas, que quando consegue, ela dá o aviso prévio do que quer e o
pai concede? Que valor a criança terá de frustração? Dizer “não” aos
pequenos é saudável de vez em quando! Mas, “Eu
sofri tanto na minha infância, que quero o melhor para meus filhos, não os
quero sofrendo como eu sofri”. Diga
"não" a eles para que possam repensar também, entender e achar seus próprios
significados. Que valor ele dará aos laços familiares como, por exemplo, os
horários da família junto, se atualmente cada um da casa (inclusive a criança)
chega a determinado horário e cada um faz a refeição no horário que quer? Como posso querer que meu filho goste quando a vovó e o vovô vão em casa, num
mundo em que tudo é rápido, novo e descartável? Num mundo em que pessoas com
trinta anos são consideradas velhas e meninas de quinze anos já pensam em Botox e correções estéticas?
É preciso começar a desacelerar um pouco. Parar. Ter mais momentos
juntos. Cozinhar com a família e de preferência comerem juntos. Se possível...
conversar.
Já que a Era é tecnológica, quem sabe aproveitar melhor, os recursos da
internet e do computador e usá-los para estudar com mais proveito. Mostrar
História, músicas, contos e particularidades suas com esse advento?
Sentar-se com álbuns de fotos e mostrar sua família pra eles. Ler
histórias, jogar jogos de tabuleiro. Conversar. Viajar. Mas, para algum lugar
que gostem de verdade e não só porque apareceu na propaganda de pacotes promocionais.
São situações simples, mas que fazem diferença. Sair do rápido e prático
e ir um pouco para o trabalhoso, mas mais prazeroso.
Hum... Já posso sentir o cheirinho daquele café de minha tia no coador...
...E não na cafeteira elétrica.
Boas recordações para vocês!