quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Sentir-se acolhido

Recentemente, tive a oportunidade de vivenciar uma experiência que infelizmente não pude dar continuidade, mas achei a ideia fantástica.

Fui convidada à ajudar na alfabetização de crianças e adolescentes chineses. 

Se sei falar mandarim? Não. Seria um desafio. Mas, a proposta era que eu ficasse com uma sala de alunos que já tinham o Português iniciado.

Fiquei encantada com a proposta da escola. Ela recebe essa turminha de forma acolhedora.
As crianças com quem fiquei, não falavam quase nada de Português, mas ainda assim "me encariñé" (acho, essa palavra española mais cabível no texto) por eles. Minha visão foi totalmente diferente, porque vi além do idioma. Pude ver além da fala que, muito mais que ter que se adaptar com a linguagem brasileira, tinham que lidar com: cultura, diferenças e provavelmente a falta dos pais, pois muitos deles vieram à trabalho para cá. Portanto, essas crianças passavam um bom tempo na escola e só no final da tarde iam para suas casas.

Mas, a ideia por trás disso é carinhosa, interessante e respeitosa com seus conterrâneos. Tenho irmãos estrangeiros que passaram por essa adaptação também, e imagino (não posso dizer que sei) o quanto deva ter sido em alguns momentos, difícil e assustador todo esse processo. Uma vez, que tiveram que "se virar" à suas formas.

Ter alguém com quem você possa esclarecer suas dúvidas escolares e de "quebra" suprir, mesmo que seja pouquinho, o carinho e a falta de quem quer que seja, é muito rico! Ora, não falo o idioma, mas me coloquei em seus lugares e pensei nos avós deles, nos tios, em suas casas e cantinhos, seus amigos, talvez seu pai, talvez sua mãe... Suas vidas.

Mandarim não é fácil. Mas, o que é possível ver além da fala? Ver aqueles rostinhos meigos tentando dizer "Oi, tudo bem?" foi a sensação mais meiga que tive nesse começo de ano. 
No segundo dia, receber um abraço sincero e ver que para eles, estar ali era mais do que entender as palavras ou contas matemáticas das escolas brasileiras em que estão matriculados, foi um conjunto de emoções. Aprender a falar Luòtuo (que quer dizer camelo), jogar Jiandão Shítou Bù (Jo Ken Po)... Foi gratificante, mesmo eu não podendo ficar mais ali e tendo que tomar a difícil decisão de recusar a vaga.

Foi angustiante, por dentro eu dizia: "Eu consigo". Mas, meu outro lado: "Não, você não consegue, deixe isso para quem sabe!". Além de outras decisões que precisaria fazer e que não cabem aqui. Difícil. Mas, quem disse que seria fácil? Às vezes, é preciso saber, até quando abrir mão de algo. No meio do caminho, mudaram minha função e sala e, nesse caso, eu não poderia ajudar da forma que se esperava. E enfim... Saí de cena. 

A questão é: Brasil, um país que recebe à todos. Essa escola, apesar de ter a iniciativa chinesa, está instalada aqui. Riquíssima a ideia de além de ajudar na adaptação escolar, oferecer acolhimento! Torna essa passagem, menos dolorosa... Menos frustrante... Menos fria.
Quem não gosta de se sentir acolhido? E há quem goste de acolher. É belo!
Aprendi muito em pouco tempo! 

Valeu a experiência e a reflexão! 

Imagem retirada de google: http://pt.dreamstime.com/fotografia-de-stock-royalty-free-crian%C3%A7a-chinesa-feliz-image7002027

2 comentários:

  1. Com certeza é uma experiencia rara chegar a um lugar diferente , com pessoas, idioma e cultura diferente. Quando cheguei ao Brasil, tinha 8 anos e achava a coisa mais estranha ver alguns vizinhos que saiam á rua d epijama, no Chile, sair na rua para bater papao de pijamâo?! Nem pensar hahahahaha Outra coisa muito triste é quando você vai para a escola e algumas crianças ficam rindo de você por que não fala direito, ou não sabe escrever o idioma deles por sorte sempre tem gente amorosa que te acolhe e te ajuda, encontrei os ruinzinhos no caminho mas muuuito mais os bonzinhos!!!!!

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  2. É Claudia. Como citei, posso imaginar essa experiência. Não deve ser nada fácil mesmo. Tudo é esquisito. Nesse momento que contei, tive que esforçar meu sentimento intuitivo e acolhedor. Num dado momento, uma das crianças com quem me deixaram, começou a chorar. Eu não sabia o que de fato o havia feito chorar, mas consegui sentir e não posso afirmar que tenha sido isso, tristeza pura ali! Imagine ele me olhando, uma pessoa estranha à ele, que não falava seu idioma, não tinha traços de sua cultura e ainda precisava cobrar-lhe que falasse outra língua naquele momento, até eu choraria. São pequenos fatos que, às vezes, passam despercebidos por nós na correria do dia-a-dia, mas que se parássemos para dar um pouquinho de atenção, já seria um bom acolhimento! De certa forma, até isso faz parte de sua construção de identidade. E nesse caos de adaptação, você ainda teve que lidar com todas essas risadas típicas, mas maldosas dependendo do momento. Ainda bem, que soube formular isso em você de forma benéfica. Beijos e obrigada!

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