quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O livro e a estante em nossa própria casa.


Imagine um livro. Qualquer um. Aquele que você leu. Ou leu e parou. Ou aquele que nunca leu. Em todos os casos: o deixou na estante ou em algum lugar qualquer. Imagine que você possa ter limpado ou não essa estante e esse livro. E pode ter passado ou não por esse lugar. Aliás, você pode nunca mais tê-lo visto.
Algum tempo se passou... Como estará esse livro? Você quer abri-lo? Abriu e fechou? Não quis abri-lo ainda? O que encontrou?

Talvez, você nunca o abra ou...
Queira abri-lo.
Como estão as folhas dele? Seu cheiro? Está sujo, limpo ou igual a como o deixou na primeira vez?
Tem pó nele?
Esse livro pode ser sua vida. É uma das formas, mais ou menos, comparativas de nós mesmos ou ainda, de algo que deixamos ali guardado em algum lugar e que podemos ou não retornar a abrir, escolher ler ou não.
Eis então que Maria sente uma dor inexplicável no peito. Forte, angustiante.
Dias se passaram... Essa sensação a faz chorar de repente. Está sentindo dor.  Ela aumenta e Maria decide ir ao médico.
Ela lhe explica: - "Sinto fortes dores no peito, doutor. Elas aparecem de repente. Tenho vontade de chorar".
O médico lhe pergunta se há hipertensos na família, como se alimenta e se faz atividade física. E Maria conta que, talvez haja hipertensos, mas não tem certeza. Que faz atividade física e que sua alimentação tenta ser balanceada. Afinal, seu dia é corrido.
O médico lhe pede exames que possam mostrar possíveis diagnósticos de sua dor.
Maria, durante o período em que faz exames, é aconselhada por uma amiga a visitar uma simpática mulher que promete uma limpeza da alma. Maria pensa: "Que mal tem?". Por conselho de outra amiga, decide fazer Yoga. As amigas do trabalho lhe indicam um bom acupunturista. 
A mulher dada como limpadora de almas, lhe diz que estava com muita energia negativa, o acupunturista trata o local da dor e tenta entender o motivo. Fazer Yoga lhe trouxe diversos benefícios. Maria, retorna ao médico para lhe mostrar os exames. Descobre ter oscilações na pressão, porém nada mais grave e que justifique suas dores. O médico lhe pergunta então: - " Você já procurou um psicólogo".
PAUSA
Será que Maria está preparada para abrir seu livro? Será que ela quer abrir o livro?

As buscas de Maria são meios de entender o que aconteceu com ela. Causavam-lhe angustia. Tentou de todas as formas aliviar aquilo. O que no primeiro momento não é negativo.
Mas, voltemos ao livro do início. Depois de tanto tempo sem olhar para determinado assunto de sua vida, com o que poderá se deparar?

A psicoterapia é um meio de entender o que nem nós mesmos, às vezes, sabemos. Aliás, na maioria das vezes. Chegamos ao consultório dizendo nosso próprio diagnóstico, o que sentimos. E descobrimos (ou não) que na verdade aquilo não era bem aquilo. E é isso que faz a diferença com outras especialidades e profissionais. Digamos que as outras são mais óbvias, certeiras, "direto ao ponto". Irão tratar de curar (e digo curar mesmo) o que você diz doer. Na psicoterapia não acontece assim. Levamos em conta a dor que o paciente sente. Só que a ferida não é escancarada. "Pisando em ovos com meias de seda" fazemos um passeio por nossa própria casa e vamos abrindo janelas aos poucos e deixando o sol entrar. Portas e janelas se abrem ou se fecham, a limpeza pode ou não acontecer. E o passeio só acontece se assim quisermos.
É preciso entender que nem sempre, estamos dispostos a fazer a psicoterapia. Um entre vários dos diversos motivos? Não querer abrir aquele livro. É difícil. Por isso, não devemos ficar chateados quando achamos que alguém precisa fazer psicoterapia e a pessoa não faz. Ela precisa ser respeitada. Cada um em seu tempo.
Imagine que aquele livro pode estar há anos na estante. Apesar do conteúdo estar lá, ficou fechado, com poeira, teias de aranha, "orelhas" nas folhas, cheiro de mofo. Podem faltar folhas. Podem estar dobradas, etc... E pode estar intacto.
Respeitar seus limites e o dos outros é muito importante. O que é nítido para um é nublado para outro.
Abraços.

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